Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças | Os Bailes

Festas do Corpo de Deus pelo Olhar das Crianças das Escolas do Concelho de Penafiel

Publicações do Livro do Museu Municipal de Penafiel- O Corpo de Deus em Penafiel
Textos-Escola Básica da Calçada; Básica de Valpedre; Básica da Torre Escola e Básica da Portela


Olá! Conhecem Penafiel? As suas tradições e costumes? Vamos lá saber se sim ou não. Nós achávamos que sim! Mas…
Somos alunos do quarto ano de escolaridade, do Agrupamento de Escolas de Pinheiro, e estamos aqui para vos apresentar um pouco da nossa História, das nossas origens, do nosso património cultural. Sabem o que é “Património Cultural”? Parecem palavras muito difíceis!

O nosso património cultural corresponde ao conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que são considerados de interesse para a permanência e para a identidade da cultura de um povo. Ou seja, património é tudo aquilo que nos pertence. É a nossa herança do passado e o que construímos hoje. É obrigação de todos nós preservar, transmitir e deixar todo esse legado às gerações vindouras.


É curioso! Só hoje nos apercebemos que, na realidade, conhecemos pouco sobre as tradições do nosso concelho. E são as nossas tradições e costumes, o nosso património cultural, que nos permitem conhecer as nossas origens. São a nossa identidade. E para a conhecer, nada melhor que conversar com as pessoas que já contaram mais primaveras e têm mais experiência e conhecimentos.

E foi isso que fizemos! Deixamos esta pequena história em aberto e fomos pesquisar.

A primeira coisa que vimos foi que os nossos pais e avós, as pessoas mais velhas, ficavam muito contentes quando falavam das tradições e costumes dos penafidelenses. Até ficaram com brilho nos olhos! Parecia que estavam apaixonados pelo passado! Eram  as suas melhores memórias! Com as nossas pesquisas ficamos a saber que a semana do Corpo de Deus em Penafiel é sempre inesquecível! É repleta de cor, alegria, diversão e muita magia! E é com um enorme orgulho que veem esta tradição ser preservada e até melhorada de dia para dia! É, com certeza, um grande marco cultural.

O entusiasmo com que se referiam ao Cortejo do Carneirinho, a que todas as famílias assistem, era contagiante. A procissão do Corpo de Deus, carregada de fé, é motivo para que as pessoas se levantem muito cedo para arranjar um lugar com boa visibilidade. Dessa maneira podem ver de mais perto São Jorge e o Dragão. Os meninos e meninas vão renovar os seus votos de fé, trajados de acólitos, com uma forte presença dos tempos passados, uma vez que são transportados num carro puxado por gado bovino e todo ele muito engalanado. As crianças, por seu lado, atiram flores a quem espera ansiosamente por as ver.

É maravilhoso conhecer as nossas tradições e, mais ainda, vivê-las! Mas as tradições não ficam por aqui. Muito há para contar! Uma das tradições do Corpo de Deus são os bailes ou danças que integravam a procissão.

No Livro do Tombo consta que, além de toda a população religiosa, eram obrigados a contribuir para a realização das festas do Corpo de Deus todas as pessoas que, pelos seus trabalhos, se encontravam integradas nas antigas corporações medievais. A sua contribuição, para além do dinheiro, eram obrigados a apresentar uma dança ou baile que representasse a atividade artesanal da referida corporação, ou mesmo outra dança que lhe fosse imposta por deliberação no Livro do Tombo das festas. Ninguém podia negar-se a participar no baile ou dança, caso contrário teria de pagar uma coima.

Esta ilustração retirada do site: ciencia20.up.pt

As danças eram fruto da fantasia, da imaginação dos habitantes locais que pretendiam oferecer novas sensações à população. Por vezes copiavam de outros, o que não era correto.

Nos dias de hoje realizam-se os seguintes bailes: Baile dos Ferreiros, Baile das Floreiras, Baile dos Pretos, Baile dos Turcos, Baile dos Pedreiros e Baile dos Pauzinhos. Bailes que continuam a atrair muitos penafidelenses e outros visitantes. Estes bailes, que eram comuns a todas as procissões do país, têm vindo a desaparecer. No entanto, o Município de Penafiel tem vindo a recuperar e a apoiar esta tradição secular, o que faz deste cortejo profano da procissão um elemento de riqueza cultural único no país.

O dia do Corpo de Deus inicia-se com a missa solene na igreja matriz, e de tarde decorre a majestosa procissão do Corpo de Deus, com a saída da referida igreja. É de salientar que esta procissão começou a ser realizada no ano 1657, famosa por juntar no mesmo cortejo o profano e o cristão. O caráter religioso desta procissão tem um vínculo muito forte, pelo simples facto de estar ligado às festividades do Corpo de Deus.

Esta festividade é de fulcral importância para a fé cristã e foi difundida por toda a Europa, desde a época medieval. Ela simboliza um dos pilares da fé cristã: na Eucaristia, o pão e o vinho, pela consagração, realizam a presença de Jesus em corpo e sangue, como este prometera aos apóstolos na última ceia.

Também Portugal adotou a procissão do Corpo de Deus, elevando-a a um patamar de grandeza e solenidade ímpares. Para incrementar a fé no povo, a procissão foi tomando aspetos e aparatos espetaculares. Os grupos de danças estão no início da procissão. Embora não atuem durante o cortejo, emprestam ao mesmo uma riqueza de tradição e cor apreciadas pelas gentes locais e forasteiros.

Os Ferreiros e Pedreiros apresentam-se em contraste colorido, de vermelho e branco. Os primeiros têm como acessório as espadas, que são essenciais à composição coreográfica da sua dança. Uma coroa de flores, que, em combinação com o traje, servem de segurança a um véu branco esvoaçante sobre as cabeças, o qual produz um belo efeito durante a dança, tornando esta mais rica em movimento.

Os Pedreiros baseiam a sua coreografia no «pico», ferramenta usada para lavrar a cantaria, que à sua dança empresta compasso, ritmo e som.

As Floreiras portam ramos de flores e cestas de verga, vestem trajes típicos das gentes do campo.
Esta ilustração foi retirada do site: http://as-coisas-dela.blogspot.pt

Os Turcos apresentam-se com indumentária típica dos mouros, numa mescla colorida de azul, amarelo e vermelho. Portam como arma uma espada curva de corte muito apurado - a típica cimitarra árabe, usada por estes em suas campanhas bélicas. Os guerreiros cristãos, trajados conforme os usos da Idade Média, são os seus antagonistas na exibição de dança.

Os «Pretos», além da caracterização, trajam estampados garridos e colares típicos das vestimentas e ornamentos africanos no geral. Apresentam uma coreografia de cariz complicado, de onde surge uma tecelagem de fitas à volta de um mastro, que, quem observa, não sabe bem como tal foi possível!

Muitos andores com santos, estandartes de confrarias religiosas, representações bíblicas, o clero, e, com destaque, o pálio sob o qual é levado o Santíssimo em Sua custódia. Finalizando a procissão surgem as autoridades civis, de que se destaca o Presidente da Câmara Municipal, seguidas do povo em geral. As festividades continuam com programação variada, a gosto dos jovens e das pessoas mais maduras.

Ao almoço, os penafidelenses reúnem-se em seus lares com alguns convivas e familiares para saborear o tradicional anho assado, com batatas e arroz de forno. O vinho verde, que acompanha repasto e é apreciado por penafidelenses e forasteiros, é uma das imagens de marca da região.

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